quinta-feira, 28 de abril de 2011

Chover

Droplets Experiment with Canon S5 IS in RAW mode by Andreas.
Droplets Experiment with Canon S5 IS in RAW mode, a photo by Andreas. on Flickr.



Hoje ela quis ser chamada por seus adjetivos. Fina, constante, gelada.
Impôs sua presença absoluta, sem deixar espaço para um pedaço sequer de azul ou mesmo abrir uma fresta para que um raio somente de alaranjado se mostrasse.
Protagonista cinza atuou o dia inteiro, calma, segura de si.
Ousei pensar que perderia as forcas no fim da tarde.
A verdade é que passou a tarde a se preparar para intrépido espetáculo.
E no limiar entre o entardecer e o anoitecer fez sua aparição: volumosa, intensa, vestindo o negro do céu.
Mostrava-se garbosa a frente dos faróis dos carros, usando-os como holofotes para a peca que encenava.
Antes de ir, porém reservou-nos uma surpresa: uniu-se aos estrondos, permitiu um coro de vozes em trovejar, permitiu que seu negro vestido fosse riscado por raios.
Assim parte. Teve aqui seu palco. Absoluta, necessária, incômoda. Voltará breve. Ou não.

Hoje não foi um dia fácil, do ponto de vista dos deslocamentos, da logística.
Choveu o dia todo. Trouxe o cachorro no colo, depois de um banho e tosa, segurando guarda-chuva.
Administrar mochilas, lancheiras, guarda-chuvas, crianças e pocas d'águas...
As crianças adoram ver aro-íris esparramados nas pocas d'água. Eu destesto pneus de carro que passam em cima delas e fazem-nas abrir-se qual cauda de pavão em nossos pés e roupas.
Necessário um dia chuvoso. Nessas bandas daqui, com tantos cachorros que saem às ruas (gosto especialmente de ver os passeadores de cachorros a passear três ou quatro juntos!), os postes são muito beneficiados com a água vindoura dos céus.
Um fato, no dia de hoje, chamou-me muito a atenção: como estão feios os guarda-chuvas desta cidade. Depois da invasão “made in China”, acabaram-se os glamurosos guarda-chuvas com cabos de madeira, estilosos.
Lembro na minha infância, de uma casa das chuvas. Uma loja linda. Na vitrine manequins com capas para esses dias cinzentos e suas mãos apoiadas em belos modelos longos de guarda-chuva.
Eu estava sempre a entrar nesta loja para admirar a exposição, sempre mudando, sempre coleções novas.
Há muito não vejo uma loja dessas. Os guarda-chuvas ficaram compactos para caber nas bolsas e perderam o charme.
As crianças ainda têm mais sorte. Para elas os coloridos, com personagens
alegram o dia cinzento.
Nos meus deslocamentos, encontrei três guarda-chuvas, amarelos, juntos, trigêmeos mesmo a andarem apressados. Fiquei a pensar: será que as mocas saíram de algum comercial para a tv. Ficou muito vistoso uma multidão com as coberturas pretas, cinzas, azul escuro e aqueles girassóis passeando na chuva.
Enquanto não encontro um modelo garboso, vou usando o meu mesmo, chinês, azul com cinza, que no dia de hoje foi de muita utilidade!

3 comentários:

  1. Belos e atentos olhares num dia de chuva, com tudo que na rua passava...At´p girassóis em forma de sombrinhas,rsrs...
    Legal o olhar sempre atento! beijos,chica

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  2. Adorei suas observações sobre o dia chuvoso.
    Elas são muito interessantes, principalmente a respeito dos feiosos guarda-chuvas escuros e iguais.
    Rezo pela sua cartilha. Nada impede que um guarda-chuva seja colorido e alegre.
    Os de cabo longo são os meus favoritos, são mais fortes e elegantes.
    Essa postagem nos mostra o quanto você é antenada e ao mesmo tempo romântica.
    Quanto às lojas de roupas para chuva eu acredito que nunca mais existirão. Ficaram no passado, que pena.
    Beijos

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  3. nada mais poético que a chuva! Adoro ficar em casa tomando um café quentinho olhando a água lá fora. Não sei porque tudo tem perdido o charme com o passar dos anos, deve ser porque hoje se valoriza a praticidade como vc mesma lembrou. Esse poema ficou muito lindo, deu pra ver seu dia-adia nele. Beijos!

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