terça-feira, 12 de julho de 2011

Bola murcha

Era o meio da manhã, quando tocou o interfone. Uma tia perguntando se meu filho poderia brincar com o seu sobrinho. Dia ensolarado de férias e estas crianças dentro de apartamento.
Ah! Os quintais... quanta falta fazem.
Bernardo desceu animado.
Depois de algum tempo, eu desci com a Júlia para irmos ao mercado.
Os dois garotos ali meio tímidos, meio sem saber o que fazer.
Na volta perguntei se queriam jogar peteca. Afirmativo.
Pedi à Júlia que descesse com a peteca e levasse também a bola.
Eu é que não vou levar essa bola murcha, dá até vergonha e eles nem vão brincar com isso”.
Insisti e a coloquei dentro do elevador com a bola murcha.
A bola, presente de um tio querido, furou logo na sua estreia, vítima de um espinho. E foi ficando pelos cantos.
Olhei pela janela, depois de um tempo, vi as figuras diminuídas pela altura: a peteca servia de marcação para o gol, e os garotos pareciam felizes a se movimentar fazendo rolar a bola, ainda que murcha.
Chamei a Júlia para ver a cena.

Quando passei pelos dois e os vi ali parados, também vi cenas de garotos descalços correndo atrás de uma bola, também ouvi a música que diz bola de meia, bola de gude, lembrei dos que já me relataram jogar com bolas feitas de meia e também vi garotos a chutar latinhas de refrigerante que não deveriam estar esparramadas nas calçadas, mas estavam.
Sim, a bola está murcha, porém ainda rola. Não quica, tem o som opaco, mas ainda rola.

Bernardo subiu para o almoço, suado, com sede. Já tinha combinado de descer “daqui a pouco”. E assim o fez, levando a bola, nem lembrando que estava murcha.
Subiu no final da tarde, agora sujo. E quando perguntei como tinha sido ( porque de manhã ele nem teve tempo para falar!), contou-me que começaram jogando peteca, mas o amigo achou difícil. Decidiram pela bola e foi bom aquele estado dela, porque não havia o risco de ir para muito longe. Fizeram gols, fizeram jogadas espetaculares, tudo com a bola murcha.
E quando lhe perguntei se marcaram para se encontrar amanhã, a resposta foi: “Claro que não, mãe. É preciso amanhecer. Ainda nem amanheceu e você já quer que eu saiba o que vou fazer? Nem eu, nem ele sabemos, temos que amanhecer para sentir o que vamos querer fazer”.

Criança e simplicidade é uma combinação alegre.
Viver um dia de cada vez é o que as crianças nunca deveriam esquecer e nossa criança interior, sempre lembrar.

10 comentários:

  1. Adoro crianças, e sua criatividade, e positividade!
    Imaginei a cena da minha janela!
    Beijão amiga
    estou esperando o marido chegar...hj ele leva um xixi!rs
    bjs nos pequenos

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  2. Puxa, seria perfeito se pudéssemos ser como as crianças.
    Ainda nem amanheceu né? como vou saber o que vou fazer?
    Que lindo, essa desobrigação, essa descomplicação.
    O adulto é ansioso, inseguro, irritantemente organizado, preocupado.
    E não tem volta não, viu Ana! Ser adulto é assim mesmo, essa coisa esquisita que a gente não consegue controlar.
    Eu queria ter essa facilidade de viver apenas o hoje, mas não dá. Que pena, não?
    Beijos para você e para as crianças. Férias da escola...ô coisa boa!

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  3. Linda e sábia lição e nós, adultos, tão afobadinhos,rsrs beijos,chica

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  4. Lindo!!! É incrivel como vc trasfere tanta alegria e vivacidade com tanto amor!!!
    Adoro seu modo de contar os "causos" !

    Bjo Jana

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  5. Esse Bernardo é muito figura!
    Adoro os pensamentos dele, é de uma sabedoria que não condiz com a idade. rs
    Temos que aprender a viver cada dia como se fosse único, para aproveitarmos todos os momentos.
    bjs

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  6. Minha querida!
    Que lindo!!!
    Como seria bom se fôssemos como as crianças...
    Viveríamos um dia de cada vez sem nenhuma preocupação.
    Abraços! Lindos dias pra ti e as crianças.

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  7. Adorei a resposta do Bernardo, como saber o que fazer no outro dia se nem chegou ainda!! E, mesmo murcha, bola é um sucesso, né?
    Também sinto falta de um quintal ou mesmo um pequeno espaço para as crianças brincarsm, aqui não tem nada, nem onde ficam os carros dá pra fazer alguam coisa!
    Beijocas,
    Aretusa, mamãe da Doce Sophia

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  8. Oi moça querida, ainda estou em férias por aqui, mas passando pra deixar um beijinho...

    deixei umas fotinhos das férias acontecendo lá no meu cantinho, tem meu filhote adolescente todo tímido por lá...

    Seu texto é lindo, delícia de ler e lembrar da minha infância, do meu quintal... ainda bem que aqui no interior muito do que você escreve ainda é possível viver...

    Beijinhos. Lindo dia por aí... Logo eu volto! Su.

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  9. Que Maravilha, Ana!
    Passo para deixar um beijo rápido ainda sem PC (vírus!)

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  10. Que bom isso neh? Nós adultos sempre preocupados com as "bolas murchas" enquanto as criancas fazem delas as melhores do mundo...

    Adorei seu post.

    Beijoss

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